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De 16 a 19/03, Festa de São José, 19:30 na Igreja Matriz.

Mural - Igreja Matriz da Paróquia Divino Espírito Santo Vale Dos Lagos – Salvador – Bahia


Painel Iconográfico de Pentecostes e do Cristo Pantocrátor


O painel iconográfico de Pentecostes e do Cristo Pantocrátor presente na Paróquia Divino Espírito Santo no bairro do Vale dos Lagos na cidade de Salvador - BA, foi planejado e executado pelo monge beneditino Dom Emanuel Silva Meloca auxiliado pelo noviço beneditino Irmão Pio Graff, ambos da Abadia da Ressurreição em Ponta Grossa – PR, entre os dias 13 e 27 de maio de 2011. Foi encomendado pelo Reverendo Padre Bento Viana.


No painel, duas cenas são representadas: Na parte superior temos a figura do Cristo Pantocrátor. A expressão grega “Pantocrátor,” pode ser traduzida como “Todo-Poderoso”. É uma visão do Apocalipse, aonde o Cristo vem pela segunda vez (Parusia) agora com todo seu esplendor e poderio para julgar os vivos e os mortos e dar a cada um a recompensa merecida.


O Cristo Pantocrátor é a representação mais freqüente nas absides (paredes ao fundo dos presbitérios) das igrejas medievais. Era justamente colocado ali para que durante toda a celebração da Eucaristia os fiéis tivessem diante dos olhos a figura do Cristo que vem no fim dos tempos julgar e fazer nova todas as coisas. Os cristãos antigos acreditavam que Cristo viria pela segunda vez quando eles estivessem celebrando a Liturgia. Se Ele não viesse consumar todas as coisas em sua glória, viria na Eucaristia. Essa era a esperança e o desejo dos cristãos que cantavam “maranatá” (vem Senhor Jesus!) nas assembléias litúrgicas.


A cor de fundo da parte superior desse painel é, como de costume, quase que toda amarelo ocre, representando o ouro que nos remete e nos quer indicar a “Luz Inacessível” que é o próprio Deus assim como o Céu glorioso onde O Senhor se encontra “sentado a direita de Deus Pai Todo Poderoso”. Ele nos precede como primícias da ressurreição que atingirá toda a carne daqueles que creram no senhor e com Ele foram sepultados no batismo renascendo para uma vida nova e sem fim. Uma faixa alaranjada desce do alto do céu e Cristo por aí desce dentro de uma mandala com raios resplandecentes, ouro e formas geométricas que representam tudo que existe e tem sua forma plasmada pelas mãos de Deus.


Sabemos que na iconografia clássica, os personagens mais importantes são sempre representados sentados (símbolo de poder, senhorio, majestade, grande importância) e por isso, somente Jesus e a Virgem Santíssima são assim representados. Neste painel, Cristo, está gloriosa e ricamente vestido, está assentado; seus pés estão apoiados num escabelo quadrado e saem do círculo formado pela mandala. O fato de estarem fora do círculo representa que Cristo saiu da eternidade, desceu dos céus (representado pelo círculo por não ter começo nem fim) e se fez carne, pois se apóia no quadrado que representa o mundo limitado. Ora, se acreditava na antiguidade que o mundo era plaino e quadrado, limitado por causa dos seus ângulos onde as linhas começam e se findam, portanto, o quadrado é representação do nosso mundo, do nosso espaço temporal. Cristo, pisando nesse quadrado que é o mundo, nos lembra o mistério de sua Encarnação. Notemos ainda que o Senhor está descalço porque assim andavam os escravos. Ele se fez servo, escravo de todos para a todos salvar e dar exemplo de humildade.


Jesus porta as vestes senatoriais. A túnica vermelha nos lembra que ele é Divino, uma vez que na iconografia o vermelho é a cor representativa da divindade. Seu manto azul recobre parte da túnica vermelha e nos indica que embora sendo Deus, pela encarnação ele se revestiu da nossa humanidade uma vez que o azul é símbolo da humanidade. Temos assim, a simbologia da união hipostática: Cristo é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, possui para sempre essas duas naturezas. No ombro que não está coberto pelo manto azul, entrevemos que Jesus usa a estola sacerdotal como verdadeiro e sumo sacerdote.


Na mão esquerda, Jesus segura um rolo de pergaminho que é a forma que eram os livros na antiguidade. É, ao mesmo tempo, o Livro da Vida, do Julgamento Universal e também seu Evangelho de Salvação.

Com a mão direita, Cristo abençoa. Ele é o Pantocrátor, o Todo Poderoso Deus, que vem nos fim dos tempos julgar o Céu e a Terra. Um detalhe nos indica como será esse julgamento: notemos que o livro do julgamento está na mão esquerda que é secundária, assim, a bênção está à frente do julgamento: Jesus vem julgar, mas vem julgar com misericórdia. Enquanto ele recolhe a mão do julgamento junto de si (representando que ele mesmo já pagou nossa culpa e nossas transgressões), nosso Salvador estende o braço que abençoa num gesto amplo apontando, para a sua direita e indicando assim que é à sua direita que devem ir os que serão salvos. A mão que abençoa dobra e une três dedos nos lembrando que Deus é Trino e estende os dois outros dedos restantes para nos lembrar que Ele, Jesus, possui duas naturezas: é humano e divino.

A auréola de Jesus possui o desenho de uma cruz em vermelho preenchida de ouro e em cada extremidade dessa cruz estão as letras gregas das iniciais do nome de Deus revelado a Moisés: Aquele Que É. No meio dessa cruz é que está o rosto de Jesus. Esse detalhe nos informa que o verdadeiro rosto de Deus se revela não no castigo, no Deus Terrível do Antigo Testamento, mas se revela plenamente na cruz: Um Deus que morre para nos salvar, para nos dar a vida, para restituir o estado de graça e amizade com ele que nós outrora havíamos perdido pela desobediência de Adão e Eva.

Como manda a tradição iconográfica, o nome daquele que nesse ícone está representados é colocado no monograma grego IC XC: É o monograma em grego do nome Jesus Cristo.

Na parte inferior do painel, podemos observar a cena de Pentecostes:


Um dos elementos mais importante nessa parte do painel é a presença da Mãe de Deus no centro da reunião dos Apóstolos. A presença da Mãe de Deus no cenáculo no dia de Pentecostes é encontrada já na iconografia dos primeiros séculos e sua base está na narração dos Atos dos Apóstolos.

Maria concebeu pelo Espírito Santo, logo foi transformada por ele, estando plena do Espírito Santo; portanto, ela já é, junto dos apóstolos reunidos no cenáculo à espera do Espírito Santo prometido por Jesus, uma intercessora e um exemplo para os apóstolos daquilo que iria acontecer também com eles. Por isso, Maria não está simplesmente misturada ao grupo, mas no centro, preside a oração e, como intercessora, mantém os braços levantados em prece.

Nos ícones, as personagens representadas possuem sempre pele morena. Isso simboliza que aqueles que aí estão pintados, se expuseram a luz de Deus a tal ponto que se deixaram bronzear pelo Sol da Graça. Também possuem uma expressão de gravidade que pode ser interpretada como tristeza, mas é antes um olhar de misericórdia lançado sobre aquele que o contempla. A testa ampla é sinal de sabedoria, os olhos grandes, são próprios daquele que contempla já deslumbrado a Deus face-a-face. As orelhas sempre visíveis nos lembram que foram homens e/ou mulheres que souberam ouvir a Palavra e a vontade de Deus e a boca pequena é daqueles que diante do Mistério de Deus se calaram e meditaram em seu coração.


Maria usa as vestes da imperatriz do antigo império Bizantino. Com isso, a iconografia nos lembra que ela é a Rainha do Céu e da Terra, a verdadeira e única imperatriz. Usa diferente dos apóstolos e para ressaltar sua dignidade e superioridade em relação a eles, sapatilhas de rainha, uma vez que os pobres e escravos andavam descalços, mas aqui, diferente da imperatriz terrena, suas sapatilhas não são de ouro e pedras magníficas e sim de um tecido de cor marrom: mais uma vez, esse detalhe nos lembra a humildade da Virgem Santíssima.

No seu vestir, ela traja uma túnica azul e um manto vermelho. Na iconografia, o azul representa a humanidade e o vermelho é a cor da divindade. Por isso, Maria tem a túnica de baixo azul, porque é humana, nascida da descendência de Eva, mas é recoberta com o manto vermelho da divindade através da Encarnação de seu Filho Nosso Senhor.

Neste manto vermelho, podemos notar a presença de três estrelas: uma em cada ombro e ainda uma terceira estrela na testa da Virgem. Elas representam duas tríplices prerrogativas ou privilégios que somente ela possui: Ser Mãe de Deus, esposa de Deus e Filha de Deus e também: Ser virgem antes do parto, durante o parto e após o parto de seu Filho Divino.

Ao redor da cabeça da Toda Santa, notamos a presença de uma auréola de ouro: Mais uma vez o símbolo da Glória representada pelo dourado e agora, também, o círculo que representa o infinito, o eterno. Maria é aquela que está na glória eterna.

Os apóstolos trajam vestes de cores diversas lembrando-nos que cada um tem conforme inspira o Espírito Santo, dons e funções diversas. Entre eles, ao lado da Virgem, destaca-se São Pedro que é aquele que tem nas mãos as chaves que representam a autoridade que Jesus lhe deu de ligar e desligar no Céu e na Terra sendo assim o chefe da Igreja e o representante visível de Cristo nesse mundo.

O fundo dessa parte do painel é de cor amarelo é de um ocre claro, quase cor da terra que representa que, embora a cena histórica de Pentecostes se passe nesse mundo, os ali presentes já experimentam de certo modo a “Luz Inacessível” que é o próprio Deus. Todos pisam na terra, simbolizando que a Igreja tem uma missão no mundo e não é apenas espiritual, solta fora da realidade em que vivem os seres humanos.

Aparecendo em línguas de fogo sobre a cabeça dos presentes, o Espírito os faz recordar as palavras de salvação que Cristo recebeu do Pai e transmitiu aos Apóstolos. Os Apóstolos começaram a anunciar a Palavra a partir do momento em que receberam o Espírito Santo e, por estarem unidos, representavam a unidade espiritual da Igreja. Os doze apóstolos estão dispostos nas duas fileiras sobrepostas em dois grupos e entre os dois grupos está a Mãe de Deus que preside e intercede. O Mistério de Pentecostes, com efeito, não é a encarnação do Espírito, mas a efusão dos dons que comunicam a graça incriada à pessoa humana, a cada membro do corpo de Cristo. A unidade que se realiza na comunhão eucarística é por excelência, um dom do Espírito Santo.


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Considerações finais:

Certamente muito não foi dito nem devidamente explicado por causa da complexidade e riqueza simbólica contida na obra.

O ícone é fruto de muitos séculos de meditação, oração e estudo teológico. Não é meramente uma figura decorativa para deixar o ambiente mais “bonitinho”. O ícone é, antes de tudo, um lugar de encontro, uma teofania. Assim, esta catequese nunca poderia esgotar todo o sentido daquilo que se propôs, pois se assim o admitíssemos, admitiríamos que o próprio Deus e seus mistérios sejam explicáveis.

Queira Deus que até o fim dos tempos esse painel permaneça aberto à contemplação de todos os que de coração sincero buscam a face de Deus revelada em seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo; e que nele, muitos e muitos encontrem na face do Senhor sua própria e verdadeira face e se assemelhem assim ao “Filho Muito Amado, no qual o Pai coloca todo o seu afeto."


Fernando Rodrigues Caldeira

Seminarista da diocese de Apucarana - PR

Texto original disponível em: http://esoanthropos.blogspot.com.br/2011/06/painel-iconografico-de-pentecostes-e-do.html

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